sábado, 30 de abril de 2011

Singular

Entre um gole e outro de uma bebida que esqueci o nome, talvez pelo o efeito que já está inteiramente vivo nas minhas veias, pude notar a inquietude dos meus sentidos quando penetrei os meus olhos num espaço vazio, numa pequena cavidade, que de tão pequena ainda me sinto refém, sem saber o ponto de chegada e o ponto de partida. Jogaria milhares de cores no ar para achar o listrado amarrotado do teu peito, e te dar ansiosamente o sentimento que vive se escondendo por trás de uma pequena garrafa de etílico. Não é minha culpa se os acontecimentos produzidos por efeito do álcool mostre o que está em sua totalidade reprimido por uma voz muda, que grita, mas lhe falta o som. Me sinto amante por um amor que disfarça o cansaço numa boa conversa de fim de tarde, e jura promessas mal feitas, perdidas no pronunciar trêmulo de cada palavra. Te possuir seria beber um gole puro de veneno e não enxergar o que está a dois palmos do meu nariz. Atordoada eu permaneço atenta por um silêncio que fala, que me expulsa e me abraça. Quantas guerras terei de vencer, quantos leões terei de matar, para te mostrar que basta olhar de um lado para o outro da rua e atravessar? Que eu não estarei entrando em nenhum lugar, mas saindo de todos os outros. Te filmaria em câmera lenta pra não perder um segundo da tua alegria - e ver detalhes que em vida corrida eu não veria. Com todas as palavras feitas pra humilhar te digo: vem, trás o vinho que o jantar está pronto.

domingo, 24 de abril de 2011

Joguete de Palavras

O vento frio que descuidadamente embaraçava-lhe os cabelos também se fazia refém, parafraseando metáforas que o intimidava. Delicadamente segredos eram soprados à beira do ouvido, e mudados consideravelmente de acordo com o ritmo do vento. Tentei ter a mesma sutileza para entender o que se passa nessa inquietude de sentimentos, e, sofrimentos, mas em troca, como era de se esperar, o que pude vislumbrar foi uma deliciosa rajada de poeira que me cegou por instantes. Confesso que nesse momento um incomodo se prostrou diante de mim e na inquietude dos olhos, imediatamente pude perceber, que não podia mais contemplar o vento que soprava metáforas à beira do ouvido. Revestí-me de uma medida incalculável de raiva e sem cerimônia pus minhas mãos bruscamente sobre os olhos. O que não posso ver é o que me faz viver. O vento traz implícito em si um desejo que sempre foi meu, o de te afagar. Um desejo que emudece as minhas cordas vocais e paralisa as minhas pernas. Certamente eu jogaria as palavras de um lado para outro da boca e não conseguiria dizer absolutamente nada. Em virtude disso também me faltaria as palavras quando, se não o meu, outro afago te acariciasse. Mas já aprendi a vestir a armadura e ter voz ativa nesse jogo de marionetes. 

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Efeito


Optei por percorrer esta enorme ferrovia que leva a um não sem fim de trilhos, onde os mesmos são traçados corretamente, sem desvios, tendo apenas os necessários. Pacientemente esperei a hora certa de pular de trilho, mas fui traída por um calo que estava oculto na parte inferior do meu pé, me fazendo fraquejar e fugir da linha. Uma dor incômoda invadiu as minhas entranhas e meu coração de tanto gritar acabou perfurando uma pequena cavidade, que ecoou para todos os sentidos palavras desconcertadas e - liberando o ar que insistentemente quis sair, senti uma sensação de alívio. O calo secou e achei o trilho certo. Certo, no entanto, errado. No mesmo tempo que eu andava na linha, percorri a ferrovia querendo pisar nos dois trilhos ao mesmo tempo, mas, era em vão, minhas pernas eram frágeis e curtas e me impossibilitavam de ir além. Aquilo me deixava com um aperto no peito e me deixava também a duvidar do meu controlador de sonhos. Eu queria de qualquer jeito resposta para aquilo tudo, e foi então que avistei de longe pássaros pousando na ferrovia entre os trilhos, eles pousaram, não em linha reta, mas em forma de ziguezague e foi quando percebi que nem toda trilha é percorrida do jeito que queremos, pisar nos dois trilhos de uma vez só não era possível, mas não quer dizer que eu não possa ter a ousadia. Resolvi seguir os pássaros e – aleatoriamente pulei linha por linha, no entanto, fiquei à penumbra, pois esqueci que os pássaros voam.  


Por: Danielle Karine e Manuela Araújo.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Foliar

No embalo dos lábios assobia notas agudas que se perdem no saltitar dos passos, cantarolando entre lágrimas a vida, e, desafinando a sua própria estrutura. Remexe a cabeça um pouco para a esquerda e para a direita, que, com a ajuda do vento bagunça-lhe os cabelos. Com suas próprias mãos traquinou feito menino as folhagens secas pelo chão, tentando achar um jeito de recolocá-las no lugar - mas o máximo que conseguiu, foi quebra-lás com o toque dos dedos. Pensou: folha seca é sinal de vida nova. Tomou para si este exemplo e concluiu o pensamento: Queria, ao menos, te desejar o mal - mas não posso. És folha seca que se quebra com o toque das mãos. 

domingo, 10 de abril de 2011

Presente de Deus

Num tom de azul claro torna-se celeste. Assim como a cor do céu num dia de sol. É fácil perceber a calma como também é fácil notar-se a inquietude. Sorriso largo, coração magnífico. Eu diria ingênuo. Percorre mares e mundos com seus pensamentos, e é capaz de traduzir o que está oculto na alma. Falo por mim, quantas vezes eu não me senti na pela da Centelha Cecília, supostamente estando a um passo da morte. E Louis quando diz: Assim como as mágoas, vivia imerso em si. Meio fracionado e, ainda assim, pleno e seus vazios (e ainda assim pleno e seus vazios. Deixa o silêncio falar por si só!). Não esquecendo de Vestal, onde a saudade faz prolongar tudo, até mais a distância..
É uma mistura de romance numa noite em Las Vegas, com todas aquelas luzes reluzindo as mágoas, o copo, o vinho e o coração machucado, como também a pureza de uma criança quando encontra o primeiro amor.
Ele é assim. Presente de Deus!

À Mts.

sábado, 9 de abril de 2011

Pedro-vaga-lume

As linhas brancas estão em todas as partes. Saem debaixo dos meus pés e seguem até onde os meus olhos alcançam, sendo para trás e para frente num compasso refletido pelo sol de um final de tarde esquentando a estrada. Acontece que me abandonaram no caminho, fui pedindo carona ao desapego e, de tanto demorar, embarquei com o passado. Perdi novamente a vontade de levantar, perdi forças, mas, com o tempo, a gente percebe que são só coisas que a gente perde pelo caminho. Um vaga-lume me acompanhou às seis da tarde. Vaga, Pedro: vaga-lume! Serviu-me de guia para me tramitar, já que o passado é escuro e cheio de curvas. Por quanto tempo dura a luz de um vaga-lume?
Não posso me demorar já que, no passado, corro o risco de ficar à penumbra. Me acomodei numa pedra - a que fez mais diferença no meu caminho - lembranças vinham a mim a todo tempo. Os pensamentos ficaram se debatendo uns aos outros e, a cada batida, era como se uma força quisesse me virar ao avesso, pois assim seria mais fácil de visualizar o que tenho por dentro. Meio sem perceber, eu fui louco ao dizer que eras tudo. Porém, essa loucura não passava de uma verdade entranhada no meu peito. O desapego chegou e vejo que sou digno de ter medo ao deixá-lo me levar. Zarpei! E, se quiser, me encontre no meio do caminho.

(Mts/Dnll)