terça-feira, 27 de setembro de 2011

Nostalgia

Sempre fiz questão pelas coisas que demorei a conquistar na vida, e sempre chorei a dor de ter que deixá-las ir embora. Me recordo dos planos, metas e ilusões de um mundo totalmente nosso, onde éramos os donos e as outras pessoas meras espectadoras, onde podíamos ser quem quiséssemos ser, onde o futuro era palpável. Um tempo revestido de promessas, de "nunca vamos nos separar". Mas, à medida que o tempo passa nós crescemos e mudamos, e nos separamos. Uns, pela distância contada em quilômetros, outros, pela distância da alma, no qual é bem mais difícil de ser alcançada. Recordo-me ainda de tantas trilhas sonoras que se fizeram e ainda se fazem presentes na minha vida. Me lembro bem que o cheiro de nossas almas era sentido à distância, e só de saber que estávamos ali era suficiente para o mundo inteiro aplaudir nossa união. A sensação que tenho hoje é de que estou sentada no banco dos réus esperando a sentença ser pronunciada, e o seu argumento está fundamentado na saudade, que não tem pena de nada e nem de ninguém, e eu fui apenas mais uma vítima. A nossa liberdade bastava para sermos felizes. A nossa insanidade era perdoada. Tantos choros, risos, raivas, encontros, desencontros. Tanto afeto, carinho, amor, lealdade, irmandade, companheirismo. Tudo isso foi se perdendo com o atravessar de pontes. E hoje, quanta saudade! O tempo passa isso é fato, e com isso passamos junto com ele. Somos obrigados a traçar novas metas, fazer novos planos, ir à busca de um futuro menos fantasioso, que esteja mais perto da realidade possível. Estamos em um nível que é tudo ou nada. Que pensamos duas vezes antes de fazer alguma coisa. Que o medo do futuro não palpável não leve o que restou de mais bonito e sagrado daqueles dias. A essência precisa ser preservada.
Diante de tantos momentos vividos e outros tantos arrancados de mim, faço minha as palavras desse grande cantor e indiscutível compositor, Renato Russo: O futuro não é mais como era antigamente!


(Dedico ao meu 3º Ensino Médio)
Saudades!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

...

Hoje me sinto ausente de lutas. Já perdi o bastante para acreditar na realidade nua e crua que se apresenta a mim. Deixei para trás pequenas coisas que ousei colocar como ponto principal e único na minha vida. Já morri o que tinha de morrer para aprender que bater de frente com um punhado de realidade dói. Por numerosos momentos quis te dizer o quanto te amava e te queria sem alarde, como e porquê, pro resto da minha vida, mas o medo assim como a realidade, eram presentes. Recurvar o corpo e voltar ao ponto que dei início era uma tarefa quase impossível, pois não sabia quando teria coragem de novo a dar um segundo, um terceiro, um quarto passos. É lamentável o estrago que isso causou. Era mais forte que eu, e o constrangedor era saber que eu sabia e nada fazia para tentar ao menos mudar de posição. Outros dizem: tem amores que só são amores porque são ocultos. Mas, me recuso a acreditar nisso. Tem amor que só é amor se tiver a mesma força e vida que o meu, e desde já peço desculpas a quem ler. Cansei de inventar estradas, situações, e até mesmo uma possível convivência mais séria entre nós, no qual se desfez com um triste e angustiante desviar de olhos. Fugir para mim era a palavra mais concreta, no entanto, as forças das pernas não eram suficientes para que isso acontecesse. Te xingar passaria a ser então o modo de demonstrar um amor esculpido pelo medo e arquitetado pela raiva. Procurei entender o porquê, mas não o fiz. Recobrei a mente, revi minha postura e sai do transe. Leva o casaco esquecido que já não preciso dele. 

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Desvarios


Vasculhei a agenda telefônica a procura de alguém que me pudesse ser útil naquele momento, para tomarmos um bom vinho e jogarmos conversa fora. Com o polegar direito passei contato por contato - mas, como era de costume fui traída pelo o indicador, que não indicava apenas o que eu estava procurando, mas também o início da minha loucura. Eu sabia quem sempre era útil nos momentos de devaneios e por insistência sempre tentei buscar um novo rumo. De súbito larguei o aparelho, peguei o casaco e saí. Andei alguns metros prestando atenção na neblina que caia sob a minha frente, mas que só era percebida pelas luzes dos postes que sempre ficam intactos, e não sofrem nenhum curto circuito ao colidir com as gotas de água que caem do céu. Senti uma palpitação descontrolada e uma vontade inexplicável de ir naquele lugar. A neblina me despertou pensamentos e momentos vividos a pouco mais de seis anos. Ah! Deus! Como eu lembro! Éramos tão jovens e insanos, que sempre fazíamos promessas de nunca nos separarmos, e não acreditávamos que o tempo um dia nos tornasse tão frios, sem planos e vítimas de uma época tão prazerosa. Caminhei apressadamente para o café que ficava a dois quilômetros de onde eu me escondia, na ilusão de ali encontrar quem minha intuição indicava. Olhei para o interior daquele ambiente e vislumbrei de cabeça baixa, segurando o vinho mais pedido da casa, o chateau, o veneno que sempre me corrói e me restaura. Tremi dos pés a cabeça, senti minha corrente sanguínea palpitando de tanta adrenalina. Quis voltar correndo, só que nessas horas (como também já era de costume), fui mais uma vez traída pelas emoções, confundi com a que dizia para ir embora e abri a porta. Fiquei ali, parada, sem saber o que fazer. Imediatamente levantou os olhos e veio em minha direção para cumprimentar-me. Esperei qualquer tipo de expressão, mas nunca essa: eu sabia que você viria. Naquele momento senti minha alma desmaiar ali mesmo, e ninguém para socorrê-la. Não senti nenhuma parte do meu corpo, apenas as batidas do coração, que ecoava pelo ambiente inteiro. Sentamos. Para aquele momento o vinho que cairia bem era um tinto seco, mas resolvi pedir o suave, de seco bastava minha garganta. Penetrei meus olhos naquela taça e pude ver através do vinho os seus direcionados a mim. Tomei o fôlego, controlei-me, ergui a taça e disse: a você.  Não hesitou, também ergueu a taça e disse: a esse lugar, a nós. Mais uma vez, o mundo parou, as pernas tremeram e o que se escutava era apenas o eco das batidas do meu peito.  O efeito do vinho já corria pelas veias, assim como nossas risadas atingiam cada metro quadrado daquele lugar. De repente as risadas pararam e deram lugar a um silêncio constrangedor. Ele arrastou sua cadeira para perto da minha, passou seu braço por cima do meu ombro e enfiou a mão entre os meus cabelos. Nos beijamos ali mesmo, desesperadoramente. Lá fora a neblina dava lugar a uma tempestade que apontava no leste. Uma rajada de vento invadiu meu quarto arrebentando a janela e me molhando toda. Pulei da cama como quem pula de salto em distância. Com a respiração ainda ofegante acomodei-me no canto do quarto, olhei de um lado para o outro: era tudo um sonho.

sábado, 30 de abril de 2011

Singular

Entre um gole e outro de uma bebida que esqueci o nome, talvez pelo o efeito que já está inteiramente vivo nas minhas veias, pude notar a inquietude dos meus sentidos quando penetrei os meus olhos num espaço vazio, numa pequena cavidade, que de tão pequena ainda me sinto refém, sem saber o ponto de chegada e o ponto de partida. Jogaria milhares de cores no ar para achar o listrado amarrotado do teu peito, e te dar ansiosamente o sentimento que vive se escondendo por trás de uma pequena garrafa de etílico. Não é minha culpa se os acontecimentos produzidos por efeito do álcool mostre o que está em sua totalidade reprimido por uma voz muda, que grita, mas lhe falta o som. Me sinto amante por um amor que disfarça o cansaço numa boa conversa de fim de tarde, e jura promessas mal feitas, perdidas no pronunciar trêmulo de cada palavra. Te possuir seria beber um gole puro de veneno e não enxergar o que está a dois palmos do meu nariz. Atordoada eu permaneço atenta por um silêncio que fala, que me expulsa e me abraça. Quantas guerras terei de vencer, quantos leões terei de matar, para te mostrar que basta olhar de um lado para o outro da rua e atravessar? Que eu não estarei entrando em nenhum lugar, mas saindo de todos os outros. Te filmaria em câmera lenta pra não perder um segundo da tua alegria - e ver detalhes que em vida corrida eu não veria. Com todas as palavras feitas pra humilhar te digo: vem, trás o vinho que o jantar está pronto.

domingo, 24 de abril de 2011

Joguete de Palavras

O vento frio que descuidadamente embaraçava-lhe os cabelos também se fazia refém, parafraseando metáforas que o intimidava. Delicadamente segredos eram soprados à beira do ouvido, e mudados consideravelmente de acordo com o ritmo do vento. Tentei ter a mesma sutileza para entender o que se passa nessa inquietude de sentimentos, e, sofrimentos, mas em troca, como era de se esperar, o que pude vislumbrar foi uma deliciosa rajada de poeira que me cegou por instantes. Confesso que nesse momento um incomodo se prostrou diante de mim e na inquietude dos olhos, imediatamente pude perceber, que não podia mais contemplar o vento que soprava metáforas à beira do ouvido. Revestí-me de uma medida incalculável de raiva e sem cerimônia pus minhas mãos bruscamente sobre os olhos. O que não posso ver é o que me faz viver. O vento traz implícito em si um desejo que sempre foi meu, o de te afagar. Um desejo que emudece as minhas cordas vocais e paralisa as minhas pernas. Certamente eu jogaria as palavras de um lado para outro da boca e não conseguiria dizer absolutamente nada. Em virtude disso também me faltaria as palavras quando, se não o meu, outro afago te acariciasse. Mas já aprendi a vestir a armadura e ter voz ativa nesse jogo de marionetes. 

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Efeito


Optei por percorrer esta enorme ferrovia que leva a um não sem fim de trilhos, onde os mesmos são traçados corretamente, sem desvios, tendo apenas os necessários. Pacientemente esperei a hora certa de pular de trilho, mas fui traída por um calo que estava oculto na parte inferior do meu pé, me fazendo fraquejar e fugir da linha. Uma dor incômoda invadiu as minhas entranhas e meu coração de tanto gritar acabou perfurando uma pequena cavidade, que ecoou para todos os sentidos palavras desconcertadas e - liberando o ar que insistentemente quis sair, senti uma sensação de alívio. O calo secou e achei o trilho certo. Certo, no entanto, errado. No mesmo tempo que eu andava na linha, percorri a ferrovia querendo pisar nos dois trilhos ao mesmo tempo, mas, era em vão, minhas pernas eram frágeis e curtas e me impossibilitavam de ir além. Aquilo me deixava com um aperto no peito e me deixava também a duvidar do meu controlador de sonhos. Eu queria de qualquer jeito resposta para aquilo tudo, e foi então que avistei de longe pássaros pousando na ferrovia entre os trilhos, eles pousaram, não em linha reta, mas em forma de ziguezague e foi quando percebi que nem toda trilha é percorrida do jeito que queremos, pisar nos dois trilhos de uma vez só não era possível, mas não quer dizer que eu não possa ter a ousadia. Resolvi seguir os pássaros e – aleatoriamente pulei linha por linha, no entanto, fiquei à penumbra, pois esqueci que os pássaros voam.  


Por: Danielle Karine e Manuela Araújo.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Foliar

No embalo dos lábios assobia notas agudas que se perdem no saltitar dos passos, cantarolando entre lágrimas a vida, e, desafinando a sua própria estrutura. Remexe a cabeça um pouco para a esquerda e para a direita, que, com a ajuda do vento bagunça-lhe os cabelos. Com suas próprias mãos traquinou feito menino as folhagens secas pelo chão, tentando achar um jeito de recolocá-las no lugar - mas o máximo que conseguiu, foi quebra-lás com o toque dos dedos. Pensou: folha seca é sinal de vida nova. Tomou para si este exemplo e concluiu o pensamento: Queria, ao menos, te desejar o mal - mas não posso. És folha seca que se quebra com o toque das mãos.